O que é Depressão?

A depressão é um transtorno de humor que tem inquietado o mundo e constitui um grave problema social e de saúde pública. Se já se fazia presente no antigo milênio, agora neste novo século continua existindo como um grande desafio a ser vencido. Ela afeta o nosso cérebro, nossa mente, como também todo o nosso organismo.

Todas as pessoas se sentem tristes ou melancólicas, de vez em quando; isso é natural, faz parte da vida. Torna-se depressão quando a tristeza e outros sintomas passam a ser diários e se estendem por mais tempo (os sintomas serão mostrados adiante).

Segundo a Organização Mundial de Saúde, aproximadamente 340 milhões de pessoas apresentam a doença, e, em 2020, é previsto que ela seja a primeira causa de incapacitação no mundo.

Ela é duas vezes mais frequente em mulheres do que em homens e afeta de 2 a 19% da população geral (conforme o critério utilizado e a região geográfica investigada).

A prevalência da depressão no período de vida é de aproximadamente 6%. Seu início pode ocorrer tanto na infância como na velhice, sendo que 50% dos pacientes estão entre 20 e 50 anos. A idade média aproximada é de 40 anos. Estima-se que 20% dos pacientes que procuram os serviços de saúde apresentam depressão.

A doença depressiva é um transtorno mental subdiagnosticado e subtratado (muitos pacientes levam por volta de 10 anos até serem diagnosticados).

Os motivos para o subdiagnóstico advêm de fatores ligados aos pacientes (que muitas vezes têm preconceito da doença e descrença em relação ao tratamento) e aos médicos (aos quais falta, muitas vezes, conhecimento maior sobre a depressão e crença na efetividade do tratamento).

Em um período de 30 dias, o número de faltas ao trabalho, entre pacientes deprimidos, é cerca de duas vezes maior do que entre os não deprimidos.

Aproximadamente 80% das pessoas tratadas terão um 2º episódio depressivo ao longo da vida (numa média de quatro), e indivíduos com parentes deprimidos de primeiro grau apresentam um risco três vezes maior para o desenvolvimento da depressão.

Alguns estudos mostraram que a depressão acontece em algumas cidades do Brasil na seguinte proporção: 1,9% em S.Paulo, 2,8% em Brasília e 10,2% em Porto Alegre.

            O transtorno depressivo mais comum é denominado de Transtorno Depressivo Maior e é caracterizado por um ou mais Episódios Depressivos Maiores, isto é, um período mínimo de duas semanas de humor deprimido ou perda de interesse com pelo menos quatro sintomas adicionais.

Segundo o DSM-IV-TR[1], o Episódio Depressivo Maior apresenta as seguintes características:

  1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo ou observação feita por outros.
  2. Interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias.
  3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta, ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias.
  4. Insônia ou hipersônia quase todos os dias.
  5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias.
  6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
  7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada quase todos os dias.
  8. Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias.
  9. Pensamentos de morte recorrentes, ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.

As causas da depressão são desconhecidas, mas alguns fatores estão envolvidos:

  • Genéticos (vulnerabilidade).
  • Bioquímicos: alterações nos neurotransmissores e dentro das células nervosas.
  • Físicos (doenças em geral).
  • Medicamentosos.
  • Psicossociais.

As descobertas científicas no campo dos neurotransmissores cerebrais têm possibilitado o desenvolvimento de medicamentos antidepressivos capazes, muitas vezes, de diminuir ou mesmo abolir a dor causada pelo intenso sofrimento dos sintomas depressivos. Como a depressão é, muitas vezes, contínua ou intermitente, deve ser tratada sistematicamente, necessitando de uma boa orientação e profilaxia.

O tratamento da Depressão Unipolar compreende:

1. Medicamentos antidepressivos e outros.

2. Psicoterapia (individual ou grupal).

3. Eletroconvulsoterapia (ECT).

4. Psicoeducação.

5. Outros tratamentos.

Os medicamentos não causam dependência (não viciam), demoram para fazer efeito (por volta de 15 dias, ou mais), devem ser tomados com regularidade e são eficazes em qualquer fase do tratamento. Nem sempre o primeiro medicamento apresenta uma boa resposta terapêutica, necessitando ser trocado por outro, e não devem ser suspensos sem a orientação médica (causam sintomas desagradáveis – síndrome de descontinuação).

Leia o texto intitulado “O que é Transtorno Bipolar?” e acesse o site: www.abrata.org.br para mais informações.

Elisabeth Sene-Costa

Médica Psiquiatra (M.D.) e Psicoterapeuta


[1]  Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (APA).