O que é Transtorno Bipolar?

O Transtorno Bipolar do Humor (TBH) faz parte de um grupo de doenças denominado “Transtornos do Humor” – ou Transtornos Afetivos – e é uma doença psiquiátrica crônica (não tem cura) e recorrente (que volta com certa frequência). Ele é caracterizado por uma instabilidade do humor, que se alterna entre dois polos: episódios (ou fases) de euforia patológica (exagerada) e episódios de depressão. Dependendo da intensidade do quadro, a exaltação do humor pode ser denominada de hipomania ou mania (este último termo não tem a ver com hábitos repetitivos ou obsessivos, tipo mania de lavar as mãos, mania de limpeza, mania de perseguição etc.). A depressão é chamada de “depressão bipolar” para diferenciar da depressão unipolar, explicada no texto “O que é depressão?”

 O TBH é subdividido em Transtorno Ciclotímico, Transtorno Bipolar tipos I e II.

  1. O Transtorno Ciclotímico ou Ciclotimia se caracteriza por flutuações menos severas do humor em um período mínimo de dois anos.
  2. O TBH I é caracterizado por episódios maníacos ou mistos (alternância de sintomas maníacos e depressivos no mesmo dia) e episódios depressivos menos graves.
  3. No TBH II a pessoa apresenta vários episódios depressivos (mais  graves) e pelo menos um episódio hipomaníaco.

A causa da doença é essencialmente biológica e genética, porém se a pessoa apresentar vulnerabilidade (predisposição) à doença, os fatores psicológicos poderão funcionar como um gatilho para o desencadeamento dos episódios. Dentre esses fatores estão, por exemplo, os estresses e as experiências de vida, sejam elas negativas ou positivas (perda do emprego ou de uma pessoa querida, casamento, divórcio, mudança de cidade, início de um relacionamento etc.).

A doença afeta muitas pessoas (prevalência ao longo da vida é de 1.8%) e pode se manifestar em todas as etapas da vida, sendo que seu início mais comum é na adolescência ou início da fase adulta (de 15 a 25 anos).   No TBH I o número de mulheres afetadas é igual ao dos homens, contudo no TBH II o número de mulheres é maior.

Em linhas gerais, os sintomas depressivos são: tristeza profunda, choro fácil, apatia, desânimo, cansaço, falta de atenção e concentração, insegurança, medos, perda de interesse ou prazer, irritabilidade, diminuição da memória, alteração do sono (dorme muito ou pouco), distúrbios do apetite (para mais ou para menos), dores pelo corpo, lentidão para se expressar, raciocinar e se movimentar, dificuldades com a higiene pessoal e com a própria casa, diminuição da libido (prazer sexual),  pensamentos pessimistas, negativos (de culpa, de falta de esperança, de baixa autoestima, de vontade de morrer) que podem levar a  ideias e atitudes suicidas. Para o diagnóstico de depressão bastam quatro desses sintomas,  presentes em um período mínimo de duas semanas.

Os sintomas eufóricos (maníacos) são caracterizados por exaltação do humor, autoestima inflada, irritabilidade, diminuição da necessidade de sono, distração, hiperatividade, impulsividade, gastos excessivos, aumento da libido com perda da crítica, pensamento acelerado, produção excessiva da fala (fala sem parar), fuga de ideias (é difícil compreender o seu discurso que fica bastante confuso), exagero nas atividades prazerosas e de risco, agitação psicomotora, alucinações e ideias delirantes. Esta perturbação é diagnosticada a partir de três sintomas em um período de uma semana, ou menos, pois há casos muito graves que justificam uma internação psiquiátrica de imediato.

O TBH não tem cura, mas a pessoa pode ficar estável durante muito tempo se seguir a orientação médica adequadamente.

O tratamento é constituído, fundamentalmente, de medicação estabilizadora do humor associado à psicoterapia e, em geral, para o resto da vida. Nos dias atuais os psiquiatras lançam mão de vários medicamentos estabilizadores, que facilitam o restabelecimento do paciente. Em determinados casos é necessário o uso de eletroconvulsoterapia (ECT) e hospitalização. A melhora dos sintomas depende do nível de gravidade e do tempo da doença. Quanto mais cedo for diagnosticada, melhor o prognóstico. Às vezes o paciente, ou os familiares, somente se dão conta do problema depois de passados muitos anos, o que leva a uma demora no diagnóstico e, consequentemente, mais dificuldade no tratamento e na recuperação.

A família é uma peça importante no auxílio ao portador do TBH. Quanto mais presente e acolhedora ela for, melhor para aquele que sofre e precisa de apoio e compreensão. Tanto ela quanto o próprio paciente devem se informar a respeito da doença com o médico, ou por meio de palestras psicoeducacionais e grupos de apoio mútuo. Quanto mais conhecimento eles tiverem, maior será, provavelmente, a adesão do portador ao tratamento, e as recaídas poderão ser menores.

Os portadores do TBH, quando adequadamente tratados, podem permanecer assintomáticos por longo tempo e não se diferenciam de qualquer outra pessoa comum, sem a doença.

E, para finalizar, é imprescindível enfatizar que em São Paulo, Capital há uma associação, a ABRATA, já mencionada no meu currículo, que agrega voluntários com a missão de dar apoio psicossocial, informar sobre os transtornos afetivos, auxiliar no convívio e na melhora da qualidade de vida, através de várias atividades grupais. Acesse o site: www.abrata.org.br

Elisabeth Sene-Costa

Médica Psiquiatra (M.D.) e Psicoterapeuta